Perfume historia
La historia cuenta que Alejandro Magno era muy aficionado a utilizar perfumes, capaz de perfumar cualquier habitación con solo el aroma de su cuerpo. En la Edad Media se fabricaron ungüentos con sustancias aromáticas, musgo incluido y después de un período de utilizar animales.
Notas olfativas
Perfume historia
Antes de falar de notas olfativas é preciso ao menos se ter uma noção básica sobre os métodos de extração de matérias-primas, que variam em alguns aspectos – não só na facilidade e no custo de obtenção de certos componentes, mas também no resultado do aroma. O método mais simples e barato é o da prensagem das cascas de frutas cítricas, cujo extrato é depois decantado. Para as demais matérias-primas, as opções mais comumente usadas são a destilação a vapor, a extração por solventes e a extração com CO2 supercrítico. O primeiro método foi introduzido na Espanha pelos árabes no século IX e depois adotado na França no século XIII, servindo para capturar os óleos essenciais que as plantas sintetizam e armazenam em células secretoras. Durante a Feira Internacional de Viena em 1873, foi apresentado o método de extração por solventes, que consiste em deixar materiais imersos em químicos como hexano e álcool etílico. Depois de algum tempo o solvente é recolhido e passa por evaporação para se obter o absoluto. Apenas como exemplo, pelo método da destilação a vapor são necessárias quatro toneladas de pétalas de rosas para cada quilo de óleo essencial, enquanto um quilo de absoluto requer apenas uma tonelada. A grande vantagem da extração por solventes é que, por trabalhar com baixas temperaturas, o aroma natural da matéria-prima acaba sendo melhor preservado. A extração com CO2 supercrítico é um método mais recente e consiste em deixar o dióxido de carbono sob uma pressão superior a 7,4 MPa e uma temperatura maior que 31o C, tornando-o um fluido capaz de preencher um recipiente como um gás, porém com a densidade de um líquido. Além de não gerar poluição, este método produz um absoluto com o aroma original da matéria-prima.
Perfume historia
Enfleurage. Um dos grandes charmes da perfumaria é um método de extração chamado enfleurage (do francês “fleur” ou flor), inventado no sul da França no século XIX. Como o próprio nome diz, o método é empregado para se extrair o óleo de flores, tais como jasmim e tuberosa, cujas propriedades aromáticas seriam praticamente destruídas no processo de destilação a vapor devido ao calor. Existem dois tipos de enfleurage: a fria e a quente. A primeira consiste em besuntar uma tela de vidro com gordura animal e depois distribuir pétalas de flores uniformemente. Depois de alguns dias as pétalas são substituídas por outras frescas, e o processo se repete até que a gordura esteja saturada com óleo essencial. Na opção quente, a gordura animal sólida é aquecida e as pétalas são misturadas num caldeirão. Em ambos os casos, a gordura saturada com óleo essencial é chamada de pomada de enfleurage, que pode ser tanto vendida assim ou convertida em absoluto, usando álcool como meio de conservação. Neste caso, a gordura restante é utilizada para fazer sabões já que mantém parte da fragrância. Hoje em dia o método da enfleurage está praticamente em extinção por ser ineficiente e caro quando comparado a alternativas mais modernas como extração por solventes ou CO2 supercrítico.
Headspace. Imagine se houvesse uma câmera capaz de captar aromas? A técnica de headspace é mais ou menos isso: um equipamento captura o odor de um uma flor ou erva, e até mesmo materiais inorgânicos. Para que isso? A técnica de headspace consegue mapear quais são as moléculas responsáveis por produzir um determinado aroma, tornando possível sua reprodução em laboratório. Headspace contribuiu para o mapeamento das 400 moléculas presentes no jasmim e 500 na rosa no final dos anos 70 e hoje é bastante utilizada para extrair óleos essenciais e absolutos de certas plantas, seja pela sua raridade ou dificuldade de extração. Na maioria dos processos de extração, o odor natural de uma flor ou erva não é totalmente preservado devido a condições de pressão e temperatura, ou pela forma como as moléculas odoríficas são organizadas. Com headspace, a questão é solucionada, pois o aroma capturado é exatamente o que se sente in natura. Obviamente cientistas precisam remover substâncias restritas ou proibidas em perfumes, mas o mapeamento mostra o caminho para alternativas sintéticas. Além de poder capturar o aroma de qualquer coisa, esta técnica também pode captar o aroma de um ambiente. Imagine poder engarrafar o cheiro do seu restaurante favorito ou da casa da sua avó…
Almíscar ou musk. Originalmente o musk era 100% natural e extraído das glândulas abdominais do veado almiscareiro. Propagado pelos povos árabes há muitos séculos, seu odor é multifacetado: balsâmico, doce, lactônico, polvoroso, animálico, especiado e amadeirado. O odor do almíscar natural é comumente comparado ao da pele de um bebê recém-nascido. Devido à ameaça de extinção do veado almiscareiro, a extração do produto natural foi oficialmente banida, mas não totalmente extinta. Casas de fragrância investiram na produção de moléculas sintéticas que produzissem o mesmo efeito de pele para dar textura e volume a um perfume. O musk pode ser “limpo” (clean) ou “sujo” (dark). Os primeiros têm um aspecto de maciez, limpeza e brilho, enquanto os últimos podem variar de ambarados a animálicos. Apesar de algumas fragrâncias serem totalmente compostas por almíscares, esta nota olfativa geralmente é considerada a “manteiga” da perfumaria, usada para realçar uma característica específica da composição ou para sustentá-la como um todo (nota de base). Existem centenas de variações de musk e, além da perfumaria, ele é amplamente usado em produtos funcionais como sabão em pó.
Âmbar e âmbar gris. Qual a diferença? A definição de âmbar no dicionário é simplesmente “resina vegetal fossilizada”. Já na perfumaria, o conceito de âmbar surgiu no final do século 19 com a invenção da vanilina (equivalente sintético da baunilha). A partir daí convencionou-se que a combinação de labdanum, estoraque e benjoim com vanilina formasse o acorde âmbar, que se tornaria a espinha dorsal dos perfumes orientais. Tal acorde teria um odor quente, encorpado, amadeirado, polvoroso e levemente doce, transmitindo opulência, mistério e sensualidade. Uma fragrância ambarada é aquela construída ao redor do acorde âmbar, podendo enfatizar tanto seu lado doce e cremoso como seu lado salgado e seco. O uso de labdanum confere um tom amargo de couro, benjoim um aspecto doce de caramelo e estoraque um toque picante de canela. Já o âmbar gris (ou ambergris) é totalmente diferente. Uma das matérias-primas mais caras da perfumaria e raramente utilizada, o âmbar gris é uma secreção estomacal expelida pela baleia cachalote devido à má digestão de crustáceos (principalmente lula). É comumente encontrado na forma sintética devido à demora em encontrá-lo na praia depois de anos boiando no mar e sendo curado pelo sol. O odor do âmbar gris é quente, radiante, macio, marinho e levemente fecal.
Bergamota. Um dos mais antigos componentes da perfumaria, este fruto cítrico é originário do sul da Itália (Calábria) e seu nome se deve à cidade de Bérgamo. Embora seja também cultivada na Costa do Marfim, Argentina e Brasil, a bergamota italiana produz um aroma de qualidade superior devido às condições específicas do clima e solo em que cresce. A bergamota tem um aroma frutado fresco e levemente especiado. Não é comestível (embora em algumas partes do Brasil seja sinônimo de mexerica) e é cultivada apenas para extração de seu óleo essencial (usado em perfumes, remédios e no chá Earl Grey). A bergamota foi um dos componentes centrais para a criação da fragrância mais influente do século 18, Aqua Mirabilis, que era inicialmente restrita à corte de Luís XV mas que em 1792 deu origem à Eau de Cologne 4711. A função da nota de bergamota é produzir o efeito fresco e efervescente de uma manhã de primavera ao nascer do sol, seja como protagonista ou coadjuvante. Esta nota tem papel crucial nos acordes fougère e chipre, trazendo vivacidade e luminosidade para ambos. Em grande parte dos perfumes a bergamota aparece como nota de cabeça e funciona muito bem para amenizar a pungência ou amargor de certas notas como couro e musgo de carvalho.
Cedro. Esta madeira nobre é reconhecida por suas características aromáticas desde os tempos bíblicos – foi a escolha do rei Salomão para a construção de seu templo. Na perfumaria, existem várias fontes para a nota de cedro, sendo a árvore de cedro ou não. Enquanto o óleo essencial do cedro Atlas é obtido através de destilação a vapor da madeira, as notas de cedro da Virgínia ou Texas são na verdade obtidas de árvores de zimbro (ingrediente principal do gin). Este tipo de cedro tem aroma mais suave e menos balsâmico que a variedade Atlas e remete a lápis recém-apontado. Existem inúmero sintéticos que reproduzem o aroma do cedro americano. O famoso cedro do Líbano não é mais utilizado devido à ameaça de extinção. Como o odor do cedro é seco e transparente, esta matéria-prima torna-se perfeita para sustentar a base de florais e outras composições delicadas sem “poluir” o aroma da fragrância. Em perfumes masculinos, a nota de cedro é mais carregada e combina bem com notas cítricas e acordes fougères. É também usada para compor a nota de incenso quando combinada com pimenta preta. A casa de nicho Serge Lutens é a que mais explorou o cedro na perfumaria com inúmeras criações, trabalhando a nota às vezes de forma macia e leve e outras vezes doce e balsâmica com um tom de naftalina. Algumas das criações de Serge Lutens com nota evidente de cedro: Cèdre, Bois de Violette, Bois et Fruits, Bois et Musc e Bois Oriental.
Civet e castoreum. Muitos amantes da perfumaria reclamam que os perfumes de hoje não têm a mesma potência que os vintages. Um dos maiores motivos foi o banimento de secreções animais em perfumes por conta de protestos ambientalistas. Tais materiais são excelentes fixadores naturais e realçam notas cítricas, herbáceas e florais da mesma forma que especiarias realçam o sabor dos alimentos. Aqui vamos tratar das notas animálicas mais comuns: civet e castoreum. Civet, mais usado nos femininos, é a secreção anal de um felino selvagem africano com um odor forte e desagradável que lembra fezes de cavalo. Castoreum, mais usado nos masculinos, é a secreção anal do castor canadense com um odor oleoso entre couro e azeitona, que lembra couro cabeludo. Hoje sintetizadas e muito próximas às naturais, essas notas conferem um aspecto mais natural e orgânico às fragrâncias quando usadas em doses mínimas, podendo fazer toda a diferença no resultado final. E por que não se usam mais notas animálicas como nos grandes clássicos Tabu, Joy, Diva e Jules? Porque durante a década de 90, simultaneamente à chegada da internet, consumidores começaram a buscar limpeza e leveza, mascarando seus odores corporais o máximo que pudessem. No entanto, alguns lançamentos recentes com cheiro de pele e suor são um sinal de que fragrâncias com tons animálicos devem voltar.
Couro. Antigamente a nota fantasia de couro era obtida através da extração do óleo de piche de bétula (árvore que cresce em clima temperado e conhecida como couro da Rússia). O material é usado também para tingimento de couro, loções capilares e produtos farmacológicos, além de aromatizar chicletes, pastas de dente e refrigerantes. Com a comprovação de danos a saúde (dermatites de contato), o extrato de bétula é hoje banido em perfumes. Casas de fragrância foram desenvolvendo sintéticos similares, como a Safraleine (açafrão sintético) criada pela Givaudan e usada em 1 Million (Paco Rabanne) para produzir o tal do “aroma de riqueza”. A nota de açafrão – originalmente uma especiaria – é enriquecida com castoreum (secreção animal com odor similar ao couro cabeludo) e madeiras nobres. Enquanto o couro de fragrâncias antigas como Cuir de Russie (Chanel), Eau du Fier (Annick Goutal) e Knize Ten tem um aspecto defumado e oleoso, sua versão moderna é bastante suave, levemente amarga e terrosa. Um bom exemplo da interpretação contemporânea da nota de couro são Kelly Calèche (Hermès), Bvlgari Black e 1 Million (Paco Rabanne). O objetivo da nota de couro é criar uma aura de conforto e acolhimento, sendo ao mesmo tempo primitiva e sofisticada.
Ervas. Estas plantas aromáticas têm como função principal acalmar ou revitalizar. São portanto frescas, leves, secas, limpas, vívidas e radiantes. Dependendo de sua composição (e da associação olfativa de cada um), uma fragrância aromática pode tanto relaxar quanto energizar. Como são mais lúdicos, a maioria dos aromáticos são masculinos e em baixa concentração (EDC ou EDT). Esta família dispõe de mais possibilidades do que qualquer outra devido à extensa variedade de ervas disponíveis na natureza: alecrim, manjericão, estragão, tomilho, sálvia, orégano, manjerona, hortelã, ruibarbo, aipo, camomila, angélica, erva-mate, artemísia, verbena, feno, ginseng, absinto, canabis, algas marinhas e zimbro, além de cereais (arroz, trigo e malte) e folhas (de figo, cassis, banana, oliveira, tomate e tabaco). O nome da família vem justamente do seu uso na culinária para dar aroma aos alimentos. Para enriquecer ainda mais uma fragrância aromática, matérias-primas de outras famílias são usadas: resinas terrosas (cumarina e gálbano), flores frescas (lavanda, gerânio, heliotrópio, íris, violeta, jacinto, mirto, lírio aquático e flor de lótus) e madeiras verdes (cipreste, eucalipto, patchouli, bambu, abeto e musgo de carvalho). Um perfume aromático, além de fresco e verde, pode ter também um ângulo picante (especiado), ozônico (aquático), amadeirado (fougère) ou levemente doce (frutado).
Especiarias. O tráfego do Oriente para o Ocidente no século 15 trouxe inúmeras novas possibilidades para a culinária europeia, que vivia à base de ervas aromáticas. Na perfumaria, especiarias sempre foram essenciais para ressaltar aromas ou até mesmo como tema principal. O Oriente nos proveu com inúmeras variantes de especiarias, sendo que as mais comuns podem ser divididas em quatro grupos: as anísicas, as doces, as frias e as quentes. As anísicas são ricas em anetol, que tem um odor doce, amargo e mentolado: anis, alcaçuz, erva-doce e estragão. As doces são canforadas e resinosas, geralmente usadas para fazer bolos e biscoitos: gengibre, kananga, curcuma, cardamomo e pimenta rosa. As frias são mais secas e cítricas, e podem ser trabalhadas tanto para refrescar quanto iluminar uma fragrância: alcarávia, noz moscada e pimenta preta. As quentes têm aroma narcótico e pungente, frequentemente usadas para trazer sensualidade a um perfume: canela, cravo-da-índia, cominho, coentro e pimenta malagueta. Existe ainda o açafrão (o rei da especiarias) que é uma pequena flor com odor doce, amargo e cremoso, usado também para compor a nota de couro devido ao seu aspecto de pele macia. Exemplos de perfumes ricos em especiarias: Opium (YSL), Jungle (Kenzo), Parfum Sacré (Caron), Jaïpur pour Homme (Boucheron) e Xeryus Rouge (Givenchy).
Flores. O homem moderno não tem muita oportunidade ou curiosidade de circular por parques para sentir o aroma das flores, o que torna a identificação de notas florais uma árdua tarefa. Didaticamente, as flores mais comuns na perfumaria podem ser divididas em 5 grupos: aromáticas (lavanda, heliotrópio, gerânio, cravo), polvorosas ou atalcadas (íris, violeta, lilás), brancas ou indólicas (tuberosa, jasmim, ylang-ylang, lírio-do-vale, gardênia, flor de laranjeira), suculentas (rosa, osmanthus, frésia, narciso) e melífluas (mimosa, immortelle, honeysuckle). Flores aromáticas são mais comuns em perfumes masculinos, enquanto flores brancas são tipicamente femininas. Para facilitar o reconhecimento de notas florais em perfumes, decidi estabelecer associações com frutas: rosa-lichia, heliotrópio-cereja, indólicas-banana, osmanthus-damasco, frésia-morango, narciso-abacaxi/maracujá. Deixando as frutas de lado, o aroma de lavanda e gerânio podem ambos serem descritos como levemente mentolados, porém a lavanda puxa para amêndoas e o gerânio para rosa. O aroma polvoroso (atalcado) quando natural confere um aspecto verde e farinhento, porém é comumente usado em forma sintética, tendo assim um leve tom de uva artificial. Finalmente, mimosa tem odor de pólen com mel, o de immortelle lembra açúcar queimado e o de honeysuckle é um cruzamento entre indólico e melífluo.
Flores brancas. Perfumes com predominância dessas notas formam quase uma família olfativa em si. Estamos falando de flores como jasmim, gardênia, tuberosa (muito conhecida no Brasil como angélica), lírio-do-vale, flor de laranjeira e ylang-ylang (embora este seja amarelo), e que têm em comum uma molécula chamada “indol”. Essa molécula é responsável por um dos aromas mais marcantes de toda natureza e servem para atrair insetos para polinização noturna, já que durante o dia as flores coloridas roubam toda atenção. O indol em forma isolada tem aspecto fétido e desagradável mas, combinado às outras moléculas da flor, produz um resultado belo e exuberante. O aroma das flores brancas também remete ao da banana, o que contribuí para o aspecto suculento e levemente doce desta família. Os florais brancos são facilmente reconhecidos pelo seu poder de projeção e silagem, seja da delicada flor de laranjeira à extravagante tuberosa. Devido a sua potência, flores brancas são também usadas para compor fragrâncias orientais florais, pois resistem bem a uma base ambarada opulenta. Junto aos orientais, os florais brancos dominaram a década de 80, famosa pela maquiagem excessiva, penteados armados e blusas com ombreiras. Alguns bons representantes são: Fracas (Piguet), Poison (Dior), Amarige (Givenchy), Jardins de Bagatelle (Guerlain) e Giorgio (Beverly Hills).
Gálbano. Resina vegetal presente no corpo e base de muitos perfumes verdes, o gálbano tem um odor vegetal, amargo e seco que lembra talo de alface. O óleo essencial de gálbano é obtido via destilação a vapor dos troncos e raízes da planta Ferula galbaniflua, originária da Mesopotâmia e Pérsia. Suas flores lembram angélica e erva-doce, às quais se assemelha em personalidade olfativa. Atualmente a planta é cultivada principalmente na Turquia, Rússia, Afeganistão e Líbano. Os hebreus usavam a resina de gálbano para fazer incenso, e seu caráter acre simbolizava a culpa do pecador. Já os gregos viam no material um propósito mais pragmático: curar dores musculares e problemas respiratórios. Vários perfumes antigos levavam a nota de gálbano, mas o primeiro a mostrá-la com destaque foi Vent Vert de Balmain, lançado em 1947. Nascia aí o novo gênero dos florais verdes que permaneceu em voga até os anos 90. A abertura de uma fragrância rica em gálbano pode ser um tapa na cara para os mais despreprados devido ao seu amargor, no entanto o gálbano assenta depois de alguns minutos e possibilita uma excelente evolução e fixação para um floral verde. A casa Chanel apostou na nota com Cristalle e N°19, lançando posteriormente seus flankers Cristalle Eau Verte e N°19 Poudré para os narizes mais modernos e resistentes ao gálbano.
Íris. Ao contrário da crença popular, é extraída de sua raiz e não das pétalas. O rizoma, também chamado de “orris”, dá origem à manteiga perfumada que é a matéria-prima mais cara da perfumaria, podendo custar 100 mil dólares o kilo. Cultivada principalmente na Itália, seu aroma natural é bastante complexo: floral, atalcado, herbácio, saponáceo, terroso, amadeirado, salgado, levemente amanteigado. Antigamente, uma fragrância à base de íris seria de baixa concentração e funcional, porém essa nota tem ganhado crescente importância comercial, passando para a linha de frente da perfumaria. Para produzir perfumes mais florais e delicados, a nota de íris é combinada com violeta e gálbano. Para mais amadeirados e robustos, é combinada com vetiver e musgo de carvalho. Para mais gourmands e sexies, é combinada com baunilha e especiarias. Fragrâncias com maior quantidade de irís natural são caras (Iris Ganache, 28 La Pausa, Iris Poudré, Rue de Cambon, Iris Silver Mist, etc) e mostram um lado mais orgânico e bruto da nota, enquanto a predominância de irís sintética (Infusion e flankers, Dior Homme e flankers, Lolita Lempicka e flankers, Arpège pour Homme, etc) produz um aspecto mais limpo e inofensivo, praticamente cheiro de banho.
Lavanda. Também conhecida no Brasil por alfazema, a lavanda pertence à família das plantas mentoladas, as Lamiaceae. Sua origem é europeia e sua utilidade vai da culinária à perfumaria, passando por diversas áreas da saúde (digestivo, calmante, anticaspa, bactericida, cicatrizante e anti-inflamatório). A lavanda é uma das notas mais presentes na perfumaria devido à sua associação com limpeza e ar fresco. Embora seja tecnicamente uma flor, a lavanda exala um odor herbáceo e é parte essencial do acorde clássico fougère. Tal acorde recebe notas de cumarina e musgo de carvalho para ressaltar as nuances amendoada e terrosa da lavanda, respectivamente. Muitas vezes a planta é combinada com menta ou gerânio para enfatizar seu lado canforado, ou com heliotrópio e baunilha para enfatizar seu lado polvoroso. Em produtos funcionais como sabão e amaciante de roupas, a nota fantasia de lavanda é construída com diversos sintéticos, entre eles linalool (seu principal componente) para dar frescor e musks para dar maciez. O aroma de lavanda é popular pelo seu aspecto vívido, limpo e refrescante, sempre com um pé no funcional. Por esse mesmo motivo esta nota é mais comum na perfumaria masculina. Perfumes famosos à base de lavanda: Jicky (Guerlain), Pour un Homme (Caron), Le Mâle (Jean-Paul Gaultier), Drakkar Noir (Guy Laroche) e Paco Rabanne pour Homme.
Musgo de carvalho. Obtido através do líquen das árvores de carvalho (Evernia prunastri), este material tem odor amargo, terroso e escuro, remetendo ao ambiente de floresta. O musgo de carvalho é uma das matérias-primas mais usadas na perfumaria, especialmente por ser essencial nas criações chipres e fougères. Além de ser um excelente fixador, o musgo de carvalho também traz um aspecto mais natural e orgânico às fragrâncias, ressaltando notas florais e herbáceas. Nos últimos anos, contudo, o musgo de carvalho tem sofrido fortes restrições por parte da IFRA (Associação Internacional de Fragrâncias) por ser potencialmente prejudicial à saúde, provocando dermatites de contato. O regulamento da IFRA exige que o extrato natural não exceda 0,1% da fórmula total, tornando difícil o trabalho de perfumistas, que têm o desafio de compor perfumes chipres e fougères com o mínimo possível de material natural. Como consequência, desde 2001 casas de fragrância vêm trabalhando exaustivamente no intuito de encontrar alternativas sintéticas para manter suas fórmulas as mais fiéis possíveis aos originais. Entre os clássicos com uma nota marcante de musgo de carvalho estão: Aromatics Elixir (Clinique), Cristalle (Chanel), Dioressence, Mitsouko (Guerlain), Paco Rabanne pour Homme, Pour Monsieur (Chanel) e Paloma Picasso.
Néroli, flor de laranjeira e petitgrain. Qual a diferença? A laranjeira da espécie Citrus bigaradia é uma das árvores mais aproveitadas na perfumaria, pois dela são extraídos o absoluto de flor de laranjeira e os óleos essenciais de néroli (flor), petitgrain (folhas e brotos) e laranja (casca da fruta). O absoluto de flor de laranjeira e o óleo essencial de néroli são ambos extraídos da flor, porém com métodos diferentes – o primeiro é obtido através de solventes, enquanto o segundo através de destilação a vapor. Enquanto a flor de laranjeira tem um aroma entre o jasmim e a laranja e, portanto, exuberante, cremoso e quente, o néroli é mais seco, delicado, herbáceo e levemente picante. Extraído das folhas e brotos, o óleo de petitgrain tem aspecto verde e amadeirado, sendo a mais masculina das opções. Embora essas três matérias-primas possam ser obtidas também da laranjeira mais comum (Citrus sinesis), a qualidade é inferior. O néroli é bastante usado como nota de cabeça em diversos perfumes, além de aparecer com frequência nos aromáticos e chipres. A flor de laranjeira suaviza florais buquê e orientais, além de compor o acorde de colônia clássico. Finalmente, o petitgrain é encontrado em fragrâncias masculinas, mas também serve para dar um ar de naturalidade às femininas.
Olíbano ou frankincense. Resina aromática obtida a partir das árvores do gênero Boswellia e usada na confecção de incenso e fragrâncias. Essa árvore possui quatro variedades, de múltiplas origens (Omã, Iêmen, Somália, Eritreia, Sudão, Quênia e Índia), sendo a espécie de Omã a mais pura e rara – no passado reservada apenas para reis e rainhas. O nome frankincense é derivado de “franc encens”, ou seja, incenso de alta qualidade – aquele mencionado na Bíblia como um dos presentes dos reis magos a Jesus. O material é usado também em remédios, pastas de dente, inseticidas e embalsamento em algumas culturas. Na perfumaria, a nota de olíbano é caracterizada por um odor balsâmico especiado, com tom cítrico, mineral e canforado, remetendo a mistério e sedução. O óleo essencial de melhor qualidade é extraído da resina, que fica entre a casca e o cerne da árvore, e requer cuidado especial, podendo ser extraído somente duas vezes por ano. O processo é similar à extração de borracha: com uma faca risca-se o tronco até que a resina líquida vaze e se cristalize. Depois disso os cristais de resina são enviados a uma destilaria onde são prensados até que virem pó, banhados em óleo e depois destilados a vapor. Alguns perfumes à base de olíbano: Coco Noir (Chanel), Jubilation (Amouage), Bentley for Men Absolute, Eau Duelle (Diptyque), Nu (YSL) e Avignon (Comme des Garçons).
Oud. Uma secreção patológica resultante do ataque de fungos nas árvores Aquillaria tem sido a nota da moda nos últimos anos. Também conhecida por agarwood, essa resina aromática tem aspecto denso, defumado, medicinal e narcótico, e é comumente usada para compor fragrâncias orientais ou amadeiradas marcantes e intensas. Com dificuldade de obtenção (a resina leva décadas para ser produzida naturalmente e já encontra-se em extinção em alguns países) e, portanto, altíssimo custo (cerca de $60 mil por kilo), praticamente todo oud usado atualmente em perfumes é sintético. Embora no Oriente o material tenha sido conhecido e apreciado desde sempre, sua aceitação no Ocidente se deu apenas recentemente e não sem percalços – Yves Saint Laurent lançou seu M7 em 2002 mas logo em seguida o retirou do mercado devido ao baixo volume de vendas. A perfumaria de nicho decidiu apostar no oud e começou em 2008 a lançar suas fragrâncias com este tema. Designers seguiram a onda e apostaram na tendência, porém com moderação. Em vez de compor criações à base de oud a partir do zero, lançam flankers de best-sellers para maximizar o risco de aceitação. Exemplos de flankers à base de oud: Polo Supreme Oud (Ralph Lauren), Roberto Cavalli Oud Edition, Versace pour Femme Oud Oriental, John Varvatos Oud e One Man Show Oud Edition.
Patchouli. Esta intrigante planta é a coluna dorsal de vários perfumes masculinos e femininos. Originário da Índia e Sudeste Asiático, o patchouli era usado nos transportes de seda do Oriente para a Europa, a fim de evitar a proliferação de traças (a planta é um repelente natural de insetos). Com o tempo, o aroma de patchouli começou a ser considerado pelos europeus sinônimo de sofisticação, já que a luxuosa e exclusiva seda asiática exalava seu odor. Perfumistas atentaram para o potencial do patchouli e começaram a extrair seu óleo essencial através de destilação a vapor. A nota de patchouli é trabalhada de diversas formas nas criações de fragrâncias, podendo ter basicamente três aspectos: canforado (a planta é da mesma família da menta), animálico (sujo e salgado como o suor humano) ou, mais frequentemente, amadeirado-herbáceo (remetendo a terra quente e cacau). Intenso e sedutor, o aroma de patchouli é usado principalmente em composições amadeiradas, orientais e chipres. Nestas últimas entra para substituir o musgo de carvalho, que enfrenta cada dia mais restrições de uso. Uma curiosidade: ao contrário da maioria dos óleos essenciais, que se deterioram com o tempo, o patchouli segue o caminho inverso e envelhece bem como o vinho.
Rosa. A rainha das flores tem sido utilizada desde os primórdios da humanidade para diversas finalidades: culinária, medicina, cosméticos e rituais religiosos. Na perfumaria a nota de rosa é usada tanto em fragrâncias masculinas (coadjuvante) como femininas (protagonista), podendo ser trabalhada de diversas formas – desde um tom mais fresco em combinação com gerânio e ervas até um tom mais gourmand com frutas. Existem 17 tipos de rosa, porém as mais comuns em fragrâncias são: Centifolia ou Rosa de Maio (cultivada na região de Grasse na França, com aspecto brilhante e tons de chá e mel) e Damascena ou Rosa de Damasco (cultivada principalmente na Turquia e Bulgária, mais encorpada que a primeira). Para preservar seu aroma, as rosas são colhidas à mão antes do nascer do sol e devem ter seu óleo extraído no mesmo dia. Como é necessária cerca de uma tonelada de pétalas por kilo de absoluto, a indústria desde cedo buscou sua síntese – em 1900 oito componentes haviam sido identificados e em 1960 cinquenta; hoje mais de quatrocentos. Por ser uma flor histórica, carregada de simbolismos e associações do passado, as casas de fragrância trabalham com uma versão “moderna” da nota de rosa para atender o público jovem, com um aroma mais brilhante e frutado (lichia) e menos seco e mofado (feno). Clássicos à base de rosas: Nahéma de Guerlain (picante e melífluo), Paris de YSL (frutado e atalcado) e Tocade de Rochas (doce e ambarado).
Sândalo. O óleo essencial é obtido a partir do cerne da árvore de sândalo, que é originária da Índia. Além de perfumes, este ingrediente é usado também para fazer incenso. Por ser resistente a traças, os indianos consideram a madeira símbolo de vitalidade e a têm usado em rituais religiosos desde a pré-história. Excelente fixador, o sândalo tem aspecto cremoso, encorpado e levemente defumado, lembrando o aroma de cappuccino. Tradicionalmente, o óleo essencial era obtido da espécie indiana Mysore, porém desde os anos 80 o governo daquele país tem restrito sua exploração devido ao risco iminente de extinção. Como consequência, o óleo essencial de sândalo é um dos mais adulterados do mundo e seu custo tem dobrado a cada quatro anos. A alternativa natural é o sândalo australiano – uma espécie diferente, com aroma mais pungente, seco e leve. A tendência atual é o desenvolvimento de sintéticos como beta santalol e santol pentenol, no entanto este é um dos casos em que ser sintético não necessariamente significa ser barato – os materiais mais próximos do aroma natural cremoso do sândalo custam mais caro que muitos componentes naturais. Perfumes com nota marcante de sândalo: Samsara (Guerlain), Egoïste (Chanel), LouLou (Cacharel) e Dolce Vita (Dior).
Vetiver. Junto con el pachulí, el vetiver es una de las plantas aromáticas descubiertas en la ruta India-Inglaterra durante el siglo 19. El vetiver es el rizoma de una hierba cultivada principalmente en Haití e Indonesia (Java), ya que casi toda la producción en la India ( de dónde viene) se consume internamente. Es un material versátil que puede usarse como alimento, tela, medicina (calmante), perfume y también para contener la erosión del suelo. A medida que crece bajo tierra, el vetiver tiene la interesante característica de absorber la esencia del suelo, liberando un aroma herbal, terroso y amaderado con un tono ahumado, balsámico y cítrico. El vetiver de Haití es más limpio y fresco, mientras que el de Indonesia está más ahumado y “sucio”. En ambos casos, esta nota se puede utilizar para mantener un aroma aromático o floral o para suavizar un aroma oriental o gourmand . Como su aceite se obtiene por destilación al vapor con un buen uso, su costo de extracción es relativamente bajo. El aroma del vetiver es tan persistente que casi siempre se usa en la base como fijador, tanto para perfumes masculinos como femeninos (especialmente después de estar restringido al musgo de roble). Las fragancias más influyentes con vetiver como tema central fueron creadas por Carven (1957), Givenchy (1959) y Guerlain (1961), todas llamadas “Vetiver”.